Anos 70

por Ludmila Fateicha


A década de 70 foi marcada musicalmente no Brasil inicialmente pelo som de Pra Frente Brasil de Miguel Gustavo, música consagradora da conquista do tricampeonato mundial de futebol no México, pelo Brasil; se por um lado essa música ajudava o governo ditatorial do General Medici a realçar aspectos nacionalistas, por outro escondia perseguições e atrocidades praticadas contra milhares de jovens por militares de plantão no governo, pelo simples fato de discordarem e apontarem injustiças sociais; intensa campanha de censura aos meios de comunicação e às artes de modo geral inibiram a criação artística e musical de modo particular.

Música e música popular particularmente exercem grande influência no comportamento e nas posturas sociais; música influencia e é influenciada pelos fenômenos sociológicos: atitudes de rebeldia, cabelos longos, modos intelectualizados de compositores e intérpretes marcaram profundamente os anos 70.
Com a repressão e censura instauradas pelo regime militar, configura-se o espírito para o surgimento das músicas de protesto, posteriormente nos festivais, sendo Chico Buarque de Hollanda o compositor mais importante e representativo desse tipo particular de expressão musical, com "Apesar de Você" (1970), "Construção" (1971), "Deus Lhe Pague" (1971). Outro a se ressaltar é o compositor e cantor Sérgio Ricardo, que, inclusive, em 1967, tomou parte no Festival da Canção de Protesto, realizado na Bulgária, onde suas músicas foram interpretadas por Geraldo Vandré. Por sua vez, Vandré atingiu o ponto máximo de sua carreira de cantor e compositor com a então clássica e polêmica canção "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", ou "Caminhando" (1968), defendida no III Festival Internacional da Canção, e que se tornou uma espécie de hino estudantil na época.
Apesar de todas essas dificuldades e censura imposta aos nossos artistas, a MPB continuou sua maravilhosa caminhada. Uma das publicações que tiveram coragem de enfrentar a ditadura foi O Pasquim, semanário fundado no Rio de Janeiro em 1969 pelo cartunista e jornalista Jaguar com a colaboração de Ziraldo, Millôr Fernandes, Paulo Francis, Henfil e outros; o mesmo semanário lançou em seguida o Disco de Bolso da Revista Pasquim que revelava os novos nomes da MPB tendo inclusive marcado oficialmente em 1972 o aparecimento de quatro grandes artistas: João Bosco, Aldir Blanc, Fagner e Belchior.
Nos primeiros anos da década (1972), acontece um surto de uma produção musical popular de cunho nacionalista, de exaltação das belezas naturais do país e da idéia básica de que "Deus é brasileiro" – muito ao gosto do ainda período militar –, numa tentativa quase ufanista de direita representada principalmente pela dupla Dom & Ravel com a música "Só O Amor Constrói", de 1971, e outro grande sucesso que Dom (Domingos Leoni) compôs (em 1970) para o então popular grupo de rock Os Incríveis – "Eu Te Amo Meu Brasil". Aproveitando a grande repercussão desses tipos de canções, Os Incríveis ainda gravariam (em 1971) um compacto simples com o "Hino Nacional" (Música de Francisco Manoel da Silva e letra de Osório Duque Estrada, adaptação vocal de Alberto Nepomuceno) e o "Hino da Independência do Brasil" (música de Dom Pedro I e letra de Evaristo Ferreira da Veiga).
Muitos outros artistas também despontaram em suas carreiras nos anos 70: Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho, Gonzaguinha, Ivan Lins, Djavan, Martinho da Vila, Tim Maia, entre outros. Os artistas já consagrados nos anos anteriores continuaram suas carreiras apesar das dificuldades políticas e econômicas: Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Baden Powell, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Roberto Carlos, Beth Carvalho, Elis Regina, Milton Nascimento, e tantos outros.
Nesta década, no Rio de Janeiro surgia um fenômeno que se caracterizaria como tipicamente carioca – os bailes funk. Os primeiros bailes aconteciam no Canecão, na Zona Sul, sempre aos domingos. Os "bailes da pesada", como eram conhecidos, foram espalhando-se para os clubes do subúrbio. Ouve-se James Brown ("Sex Machine", "Get On The Good Food", "Soul Power"), Kool and The Gang, Wilson Pickett e outros. Com a proliferação de uma multidão de dançarinos populares adeptos do movimento, trajados com roupas black de ocasião, cabelos afro, sapatos plataforma coloridos, surgiram as equipes como Soul Grand Prix, Black Power, Dynamic Soul, Furacão 2000, União Black. Surgem importantes nomes da funk music carioca como Gerson King Combo, Tony Tornado, Sandra Sá, Cassiano, Robson Jorge, Rosa Maria e outros.
Samba urbano, bossa nova, chorinho, baião, música sertaneja, rock brasileiro, jovem guarda, marchinhas e sambas de carnaval enfim inúmeros gêneros musicais continuaram sua caminhada de sucessos nos anos 70, comprovando a imensa riqueza e diversidade de nossa cultura musical popular.


Dom & Ravel

Tim Maia

Elis Regina

Zé Ramalho

Milton Nasciemento

Segue vídeo com o melhor da música dos anos 70:

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