Anos 50

 por Lorena Mattos e Ângelo Cerqueira


Derivado do samba e com forte influência do jazz a Bossa Nova é um movimento da música popular brasileira do final dos ano 50 lançado por João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e jovens cantores e/ou compositores de classe média da zona sul carioca. A Bossa Nova apresenta uma postura que valoriza a contenção, contrária ao emocionalismo excessivo da música popular das décadas de 40 e 50, além de estabelecer uma correspondência com outras manifestações estéticas dos anos 50, como a poesia concreta e a arquitetura de Oscar Niemeyer. Assim ao introduzir um registro musical intimista semelhante ao do cool jazz, a bossa nova harmonizar-se-ia com o ideário de racionalidade, despojamento e funcionalismo que teria caracterizado várias manifestações culturais do período.
Valoriza-se, nesta tendência, o procedimento de ruptura com tradições anteriores da música popular no Brasil. Assim, tal como os poetas concretos, que teriam rompido com as tradições retórico discursiva e subjetivista na literatura, os músicos da bossa nova, notadamente João Gilberto, pautariam o seu trabalho pela rejeição dos sambas-canções e dos boleros melodramáticos do período anterior, e da maneira operística de interpretar estas canções, ao estilo de Dalva de Oliveira e outros cantores do período. Este tipo de interpretação, desenvolvida pelos poetas e musicólogos paulistas, tornou-se, de certa forma, canônica, passando a constituir uma referência imprescindível para os estudiosos da música popular no Brasil.
As músicas inaugurais da nova tendência musical aparecem como canções-manifesto “Desafinado” (1958) e “Samba de uma nota só” (1960), compostas por Tom Jobim, em parceria com Newton Mendonça, introduzem um tipo de procedimento em que letra e música, ao mesmo tempo em que se comentam mutuamente, fazem alusões às novidades musicais. Os elementos de transgressão da bossa nova encontram-se presentes, sobretudo em “Desafinado”. No momento exato em que se pronuncia a sílaba tônica da palavra “desafino” ocorre, no plano da música, uma nota inesperada, que representa uma transgressão aos padrões harmônicos da música popular convencional. Outro procedimento que caracteriza as duas composições, colocando-as em correspondência com o tipo de sensibilidade da poesia concreta, é a maneira cool de se lidar com a temática amorosa. Em Desafinado, por exemplo, a pretexto de uma arenga sentimental, discute-se, na verdade, uma questão estética.
Nem todos os integrantes da bossa nova se sentiam atraídos, como João Gilberto, por um procedimento de ruptura mais radical com o passado da música popular, embora todos reconhecessem uma liderança na figura deste músico, principalmente com relação à famosa batida que ele inventa no violão e à sua maneira de cantar à meia voz, com um timing perfeito e nenhuma ênfase emotiva.
Existe uma influência muito forte na bossa nova do jazz mais requintado que se desenvolve nos Estados Unidos a partir dos anos 40, do be-bop ao cool jazz, sobre os músicos que se propõem a recriar o samba nativo. Há também o impacto do bolero, principalmente o desenvolvido no México, por Lucho Gatica. Roberto Menescal, por exemplo, ao falar sobre as novidades estrangeiras que o marcaram profundamente na fase de sua forma musical, refere-se ao LP Inolvidable, de Lucho Gatica, que recorria apenas a dois instrumentos violão o e baixo para o arranjo, rompendo com a tradição do bolero de utilizar grandes orquestras.
Segundo Menescal, este procedimento foi importante para que ele e outros músicos de sua geração formassem o hábito de evoluir o violão, que assim, dialogando apenas com o baixo, aparece destacado, singularizado. Assim como Carlos Lyra também se refere às musicas mexicanas como os boleros de Agustin Lara, que seriam referencias importantes para ele e os seus companheiros de geração admitindo que “despertou” para a música ouvindo as canções de Dick Farney.
Esse estilo musical teria então, segundo ele, uma gama variada de influencias: além do bolero mexicano, do impressionismo de Ravel e Debussy, do jazz desenvolvido por Gershwin, Cole Porter, Richard Rogers, Larry Hart e vários outros compositores. As influencias estrangeiras somam-se as misturas brasileiras de samba, xaxado, valsa, além de outros ritmos.
Na década de sessenta a estética bossa-novista passa a conviver com a recuperação do excesso como representação de pujança cultural, como o demonstra em seu desenvolvimento nesse período. Chico Buarque é um bom exemplo de músico da geração pós-bossa-nova que não só incorpora a batida inaugurada por João Gilberto como adiciona a este ritmo outros elementos do repertório musical brasileiro (Moreira, 1999).

Acesse:
Da Bossa Nova à Tropicália

Seguem vídeos com o melhor da MPB dos anos 50:











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